O amor comeu meu nome, minha identidade, meu
retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu
endereço. O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos
os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor comeu minhas roupas, meus
lenços e minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O
amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho
de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus
olhos e de meus cabelos. O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e
minha noite, meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de
cabeça, meu medo da morte.
(João Cabral de Melo Neto)
O amor come o próprio amor
ResponderExcluirAcho que chegou a esse ponto.
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